sexta-feira, 27 de maio de 2011

RITUAL

200013707-001
a vida e o sangue
das vítimas
bode expiatório
sinal de aliança
deuses e fiéis
o ritual
excursões e feiras
almoçaradas e abraços
torrente de palavras
inúteis
promessas do costume
altruísmo balofo
sedução ao voto
anestesia e amnésia
colectivas
os mesmos de sempre
perversamente
vomitam palavrões
e sapos
que outros digerem

na margem esquerda
moram os indesejados
apesar de tudo
lúcidos e despertos
resistentes, insubmissos
mulheres e homens
precários e descartáveis
unidos na subversão
sistémica
presente aprisionado
direitos sequestrados
horizonte sombrio
toque de finados
estertor democrático
apesar de tudo
resistem e caminham
convocam a esperança
uma estranha paz interior
cresce e avança
dribla o presente
antecipa o futuro
NOTA: Retirado do sítio do costume

terça-feira, 17 de maio de 2011

O MEDO

O terror invisível: “esse é o terror da fome, da pobreza, da ignorância, o terrorismo do desespero perante a impossibilidade de mudar a vida” (Mia Couto)

o temor constante
de perder o emprego,
a casa,a saúde,
a educação dos filhos
o pão de todos-os-dias
a reforma
muros de medo
a subserviência,canina
os camaleões
pratos de lentilhas
escória da sociedade
capitulação
fosso de desigualdades
repressão musculada
o medo, muros de medo
alimentadores dos poderes
das consciências,os impérios
os aparelhos, o voto,
os eleitos,
parasitariamente instalados
o medo
raíz da violência
basáltica como o ódio
naturalizado
restritivo, silencioso
manipulador
repressivo, reprodutor
excludente

o medo
gerador de revolta
de protestos e desespero
construtor de utopias
capital de esperança
convertido, audaz
desmistificador
determinado
reinterpretador do presente
devolve e alimenta
a esperança num futuro
sem medo

domingo, 8 de maio de 2011

TERRITÓRIO DE FROUXOS

país de marinheiros
homens-sem-terra,
ricos e pobres,
explorados e exploradores,
prostitutas e proxenetas,
progressistas e conservadores,
verticais e subservientes,
corruptos e íntegros,
heróis e cobardes,
eleitores e candidatos,
manipulados e manipuláveis,
FMI, agiotagem e canalhas,
muitos canalhas,
num território
onde a ignorância, o arrivismo,
a cobardia
rimam com arrogância

é assim, no país
faz-de-conta
simulacro de soberania
cheirinho de liberdade
condicionada
vendilhões indecorosos
obscurantismo analgésico
soporífico e entorpecedor
território de frouxos
acomodados na placidez
consumista
mimeticamente instalados
predadores de promessas
trituradores de sonhos
branqueadores de consciências

é o espantalho da crise
é a submissão
é arbitrariedade
menos arbítrio
mais corte
menos corte
mais mistificações
controle totalizante
amnésia colectiva
costumes brandos
enjoo crescente
a nossa resposta
estruturalmente antagónica
reagimos
quem nos impede?