domingo, 19 de junho de 2011

INEVITABILIDADE



é preciso, é inadiável
exige-se
recuperar a memória
a dignidade
a história de luta
recusar o fatalismo
e a inevitabilidade
combater os medos
os silêncios
as cumplicidades
denunciar o instinto
privatizador
conformista e de submissão
resistir e forçar caminhos
alternativos
construir a esperança
nas convicções
organizar o protesto
e a luta
libertadora
rejeitar instituições
e ideologias excludentes
que comprometem o futuro
de gerações
subvertem princípios e direitos
aprofundam o retrocesso social
promovem a mentira
a desinformação
adúltera e manipuladora
num território à procura
de afectos e autenticidade

terça-feira, 14 de junho de 2011

DESDOGMATIZAÇÃO



é preciso desdogmatizar
ideologias e sonhos
franquear as portas
à inevitável barbárie
na senda do determinismo
dizem opiniólogos
bem nutridos
rumo ao pleno emprego
à privatização total
do estado social
o mundo fica bem melhor
o patronato será mais feliz
mesmo com algum sacrifício
os trabalhadores também

ausência de ideias
o voto cúmplice e ausente
hostil e naturalizado
voto na ilusão
nos domínios da mistificação
no regresso
à normalidade anormal
do salário, da pensão
cavalgada insaciável
das migalhas dos poderzinhos
ajuste de contas
refúgio compulsivo
no universo da obscuridade

é preciso penalizar, punir
desdogmatizar
valores e princípios
desconstruir projectos
silenciar, subverter
expectativas de sobrevivência
animar a malta
conversa da treta
alimentar o desemprego
dormir na valeta
mastigar silêncios
apertar o cinto da indignidade
extinguir o futuro
no reino da impunidade

Imagem daqui

domingo, 5 de junho de 2011

OS MORDOMOS DO UNIVERSO TODO

Detesto as vítimas quando elas respeitam os seus carrascos (J.P. Sartre)


em Junho fomos
a votos,
sonhando libertar-nos
da camisa de forças
do grande capital
nas ruínas de Abril
cruzámo-nos com cidadãos
acossados
desarmados e ausentes
em coma, profundo
horizontes sombrios
vitimas de inércia
e medo

navegámos pela memória
recuperámos o passado
a repressão física
mental e cultural
a submissão
as conquistas e a sua destruição
reformados e desempregados
precários e descartáveis
novos e velhos
homens e mulheres
muitos
tolhidos por preconceitos
agiram como a avestruz
no país do medo
bateram em retirada!

sábado, 4 de junho de 2011

A DIREITA

imobilista por definição,
elitista e conservadora.
populista como convém.
trauliteira, desonesta,
belicista e patrioteira
e pugna, dizem,
defender a liberdade
o bem-estar dos povos!
perfilha e teoriza
a intolerância
o pensamento único
castrador
tem visão unidimensional,
egocêntrica e paroquial
da sociedade e do mundo.
imunizada
à ideia de progresso
justiça social.
é como os insectos:
sai mais forte
quanto mais fortes
são as doses de D.D.T.
que lhes aplicam.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

É URGENTE

salvar o país das garras
da libertinagem
trabalhadores desempregados
malfeitores
precários, indolentes e descartáveis
subsidio-dependentes
e outros marginais

é preciso salvar o país
das garras dos sindicalistas
das forças progressistas
dos cidadãos impolutos
das vozes críticas
do direito à indignação
do excesso de liberdade

é preciso salvar o país
difundir a palavra
e a ordem
indagar, questionar
mobilizar e seduzir
bandos e magotes
nos braços do FMI

sexta-feira, 27 de maio de 2011

RITUAL

200013707-001
a vida e o sangue
das vítimas
bode expiatório
sinal de aliança
deuses e fiéis
o ritual
excursões e feiras
almoçaradas e abraços
torrente de palavras
inúteis
promessas do costume
altruísmo balofo
sedução ao voto
anestesia e amnésia
colectivas
os mesmos de sempre
perversamente
vomitam palavrões
e sapos
que outros digerem

na margem esquerda
moram os indesejados
apesar de tudo
lúcidos e despertos
resistentes, insubmissos
mulheres e homens
precários e descartáveis
unidos na subversão
sistémica
presente aprisionado
direitos sequestrados
horizonte sombrio
toque de finados
estertor democrático
apesar de tudo
resistem e caminham
convocam a esperança
uma estranha paz interior
cresce e avança
dribla o presente
antecipa o futuro
NOTA: Retirado do sítio do costume

terça-feira, 17 de maio de 2011

O MEDO

O terror invisível: “esse é o terror da fome, da pobreza, da ignorância, o terrorismo do desespero perante a impossibilidade de mudar a vida” (Mia Couto)

o temor constante
de perder o emprego,
a casa,a saúde,
a educação dos filhos
o pão de todos-os-dias
a reforma
muros de medo
a subserviência,canina
os camaleões
pratos de lentilhas
escória da sociedade
capitulação
fosso de desigualdades
repressão musculada
o medo, muros de medo
alimentadores dos poderes
das consciências,os impérios
os aparelhos, o voto,
os eleitos,
parasitariamente instalados
o medo
raíz da violência
basáltica como o ódio
naturalizado
restritivo, silencioso
manipulador
repressivo, reprodutor
excludente

o medo
gerador de revolta
de protestos e desespero
construtor de utopias
capital de esperança
convertido, audaz
desmistificador
determinado
reinterpretador do presente
devolve e alimenta
a esperança num futuro
sem medo

domingo, 8 de maio de 2011

TERRITÓRIO DE FROUXOS

país de marinheiros
homens-sem-terra,
ricos e pobres,
explorados e exploradores,
prostitutas e proxenetas,
progressistas e conservadores,
verticais e subservientes,
corruptos e íntegros,
heróis e cobardes,
eleitores e candidatos,
manipulados e manipuláveis,
FMI, agiotagem e canalhas,
muitos canalhas,
num território
onde a ignorância, o arrivismo,
a cobardia
rimam com arrogância

é assim, no país
faz-de-conta
simulacro de soberania
cheirinho de liberdade
condicionada
vendilhões indecorosos
obscurantismo analgésico
soporífico e entorpecedor
território de frouxos
acomodados na placidez
consumista
mimeticamente instalados
predadores de promessas
trituradores de sonhos
branqueadores de consciências

é o espantalho da crise
é a submissão
é arbitrariedade
menos arbítrio
mais corte
menos corte
mais mistificações
controle totalizante
amnésia colectiva
costumes brandos
enjoo crescente
a nossa resposta
estruturalmente antagónica
reagimos
quem nos impede?

domingo, 23 de janeiro de 2011

E AGORA?

De que serve estar contra o fascismo – que se condena – se nada se diz contra o capitalismo que o origina?” (Bertolt Brecht)

percorra-se um território,
timidamente habitado
costumes brandos
santas alianças
rituais e obscuras
situacionistas
gerações de arrivistas
atoladas até à medula
na sordidez congénita
pregadores de intolerância
produtores de simulacros
de liberdade
ostracizadores da cultura
anestesistas de consciências
generalizadores do medo

décadas depois,
exalta-se a liberdade
cravos, paz e justiça
social
utopias e sonhos
promove-se o arrivismo
mediático
a ânsia de poder,
o tráfico indecoroso
a especulação
a mentira e a traição
o desemprego, a penúria
a precaridade colectiva
decapita-se a esperança
regressa-se ao passado
disfarçado de presente
IMAGEM DAQUI

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

EMBUSTE



anacronismo plural
disfarçado de cravos
e algemas
a propriedade, os agiotas
os brandos costumes
as terras de além mar
extorsão, fatalismo
a amnésia social


obscenidades ideológicas
reprodutoras de exclusão
exploração sem limites
parasitariamente
burguesmente instalados
mergulhados até às virilhas
na subserviência canina
agitam a cauda e salivam
no altar do Poder
habitados pelo ódio
teóricos da intolerância
populistas como convém


Convocam o autoritarismo
diabolizam tudo e todos
a lucidez, o inconformismo
sindicatos, trabalhadores
desempregados, migrantes
sem abrigo e reformados
vestem-se de anjos
abatem o sonho
elegem a tirania

IMAGEM DAQUI