sábado, 26 de dezembro de 2009

REPRODUÇÃO DO AMOR


no deserto das emoções
na fronteira do teu sorriso
no brilho dos teus olhos
no sabor, no carinho
na alegria das palavras
tuas
oásis de ternura
com chuva ou com sol
no estremecer da noite
segredas ao corpo a paciência
o abandono e o silêncio
da outra margem da vida
o amor se reproduz

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O AMOR E A INTOLERÂNCIA

amnésias afectivas
fogos cruzados
danos colaterais
decisões adiadas
conflitos emocionais
territórios movediços
dignidades diabolizadas
sonhos triturados
armadilhas e indignidades
entranhas do sonho
florestas de hipocrisia
travo de nostalgia
interesses irreconciliáveis

domingo, 29 de novembro de 2009

É NATAL





Nem é raro tão pouco que as crianças – ao verem tantas coisas atrozes – acabem por crer realmente que o menino Jesus não nasceu em Belém mas sim nos Estados Unidos.( Gabriel García Márquez)


Nas ruas agitam-se as promoções

os descontos e as liquidações
o consumismo reaparece
a crise, suspende-se
naturaliza-se a miséria
promovem-se jantares
distribuem-se uns cobertores
bolo-rei e uns sorrisos
na margem esquerda da vida
escava-se na sombra da miséria
sem-abrigo, refugiados,
vítimas da guerra
e seus desvarios
num natal de reaccionários

MENINA DOS OLHOS LINDOS


menina de olhos lindos
com sorriso de encantar
troque um sonho
por um olhar
por um beijo
por uma carícia
menina de olhos lindos
o que tanto a faz sorrir
um amor secreto
outros olhos
outros sorrisos
outros sonhos
Menina de olhos lindos
que sorriso o teu
janelas de ternura
rodopio de afectos
horizonte de desejos
perfumados de esperança
menina de olhos lindos

sábado, 14 de novembro de 2009

DESEJO

aguardo-te desperto
não há lugar para silêncios
reaparece no amanhecer
dos sonhos exilados
nos alvéolos
dos nossos desejos
trepo os muros da noite
inicio uma excursão
pelo território dos afectos
percorrendo-te
com a nostalgia
das madrugadas
agitadas
coloridas pelo teu sorriso
povoado de ternura

sábado, 31 de outubro de 2009

AS PALAVRAS


acariciadas com ternura
com amor, suavemente
até à excitação
timida
massajam o ego
recusam prostitui-las
asseguram dignidade
transparência e afecto
acolhem-nas num universo
linguístico e criativo
sedutor e reprodutor
liberto da teia do
pensamento único
castrador


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

PRECÁRIOS

abandonados por Keynes
pelos deuses e por Satanás
pelos especuladores
pelos demagogos
pelos falsos profetas
em nome das crises sistémicas
inevitáveis como a fome
trabalhadores sem trabalho
vagueiam nas ruelas
da sobrevivência
tropeçam na indiferença
de governantes
parasitariamente instalados.

activos indiferenciados
estagiários-candidatos
estudantes-trabalhadores
jovens, casais e mulheres
migrantes-silenciosos
novas oportunidades
são o futuro da economia
subterrânea e obscena
no país-faz-de-conta
do desemprego permanente
da escravatura disfarçada
da pornografia financeira
da exploração sem limites
do cerco às liberdades

crescem como cogumelos
no quintal da indigência
mais trabalhadores
precários e descartáveis
como a ética e as politicas
putrefactas
de Estados abjectos
amplificadores e indiferentes
das desigualdades sociais.
caramelizadas em discursos
produzidos por ideologias
excludentes e intolerantes
decretam a invisibilidade
assobiam para o lado
provocando as vítimas
sombras inúteis e incómodas
de sociedades vazias
cruéis e desumanas
até às virilhas do egoísmo

sábado, 26 de setembro de 2009

MIGRANTES: CIDADÃOS INVISÍVEIS



No exílio
Os silêncios gritam
ambiguidades
pensamentos ausentes
lágrimas vestidas de raiva
impotência acomodada

Os exilados
noutras geografias
polvilhados de nostalgia
de recusa e ostracismos.
perseguidos ou indiferentes
percorrem as ruas
da sobrevivência
convocando a amnésia
histórica adquirida.

No exílio
tragédias pessoais
crise identitária
pragmatismo
reprodução e regresso
ao(s) passado(s)
do outro
e de ninguém

Os exilados
pedreiros, estudantes,
mulheres a dias,
funcionários públicos
freiras e prostitutas
políticos arrependidos
quadros superiores
músicos, desportistas
representam esta multidão
heterogénea e descrente
ingénua e desconfortável
carne para canhão
bode expiatório
moçambicano, chinês
mexicano ou português

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

DESPERTO

aguardo-te,
liberto dos silêncios
amordaçados
de vidas cruzadas
finalmente, desperto
ao amanhecer dos sonhos
exilados nos alvéolos
dos nossos desejos
quero trepar os muros
da noite
iniciar uma excursão
pelas entranhas dos afectos
percorrer-te
com a nostalgia
das madrugadas inquietas
coloridas pelo teu sorriso
e pelo teu olhar
povoados de ternura

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

RAMOS DE DESEJOS

debruçado na noite
na ternura da madrugada
abri as janelas

da esperança
despi as angústias
de palavras inúteis
na sonolência dos afectos
respiro o odor da tua pele
beijada de carícias
na memória dos encontros
recordo o perfume
dos teus seios
vejo nos teus olhos
ramos de desejos
da cor dos meus

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

OVERDOSE DE AFECTOS


adormecido ao lado do sonho
nascido e naturalizado
numa overdose de afectos
naquela noite de Agosto
iluminada em círculos
de sedução concêntrica
prolongou-se a madrugada
na adolescência de promessas
amanhecidas na infância
de desejos habitados
no imaginário moldado
no despertar libidinoso
escavado nas entranhas
perfumadas por deuses
exilados em noites
rodeadas de ternura

imagem daqui

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

EXPRESSO DO ORIENTE

a magia em carris
nos apeadeiros da ternura
e de olhares cúmplices
falámos do presente
de amor e de projectos
de afectos e viagens
do tempo, do que fomos
do que seremos
do nascer e morrer
a todo o instante
parados, de mão dada
na confusão dos sentidos
reconstituímos
e tropeçámos no amor
em curtas viagens
salpicadas de esperança
percorremos a paisagem
de emoções e silêncios
acordados em sonho
escavados na medula
das paixões
de desejos adiados
na magia do encontro
no expresso do oriente
tão próximo e tão distante
no estremecer da noite

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

NUMA TARDE DE AGOSTO


Procurei ao acaso
percorri-te as origens
cruzámos o passado
viajámos numa noite
escura
habitada nos teus olhos
embriagados de ternura
vestida de desejos
gritavas silêncios
e gemidos em mágoas
cicatrizadas no abandono
de palavras ácidas
escavadas na angústia
trepei nos teus sonhos
ainda nublados
numa tarde de Agosto
tatuada de sorrisos
despi-te a tristeza
perfumei-te de afectos

sábado, 8 de agosto de 2009

ORGASMO


aquela sensação
quase morte
harmoniosa e irreal
agradável e asfixiante
como quem escreve
um poema
um estrondo no intervalo
de silêncios que gritam
o corpo estremece
o vigor agoniza
sorrisos devassos
perto do fim
na noite escura
da alma

IMPÉRIO DA MENTIRA


Hoje vamos reunir
falaremos dos candidatos
das coligações, das sondagens
das influências e dos amigos
do acerto de contas
das tribos
da corrupção e do Poder
da mentira sórdida
mesquinha e anestésica
ah, também dos tribunais
e outras coisas mais.
Todos diferentes
todos iguais,
uns instalados
uns menos outros mais
falaremos da televisão
entrevistas, noticias
tempos de antena
e telejornais
falaremos do passado
das promessas
dos incumprimentos
e outras imbecilidades
casuais
falaremos da crise
do combate ao défice
da democracia moderna
do aumento da natalidade
de demagogia e
outros vendavais
Isto já é demais!
IMAGEM DAQUI

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

ESTILHAÇOS


palavras para quê?
meu olhar percorre-te,
gostosamente,
embriagadamente.
vagueia por ti
perfuma-te
de pudor
estilhaça afectos
navega na sedução
veste-te de desejos

domingo, 2 de agosto de 2009

RUAS ESTREITAS


em ruas estreitas
de amor mal iluminado
um homem e uma mulher
reinventam-se
na indiferença
em abandonos e recusas
percursos em silêncio
na solidão subterrânea
do tamanho da angústia

no horizonte da esperança
perfumada de desejos
acariciam o tempo
constroem pontes
despem as mágoas

nas entranhas da memória
na ternura das madrugadas
vagueiam pelos afectos
habitam o futuro

sábado, 25 de julho de 2009

DEFINIÇÃO DO AMOR

Grito silencioso
Euforia reprimida
Eternidade efémera
Desejo insaciável
Amizade indiferente
Saboroso e insípido
Alegria penosa
Antipatia irresistível

quinta-feira, 16 de julho de 2009

ÀS SEXTAS, À NOITE


Bares entupidos
gente à procura
de um copo cheio
de qualquer coisa
estimulante e com gelo
muito gelo
falam do futuro
do Poder e dos outros
e de dólares.
caju e camisinhas
de fidelidades e álcool
nas sextas à noite
os bares são invadidos
por homens dependentes
desabitados e aturdidos
vazios, também
mulheres atentas
nas ruas do abandono
criancinhas com fome
velhos abandonados
violadores e assaltantes
à solta
políticos ,comerciantes
prostitutas, empresários
mendigos,
bares abarrotados
de gente empedernida
às sextas,
euforia e promiscuidade
rimam com crueldade

sábado, 4 de julho de 2009

ARBITRARIEDADE CONSCIENTE


Nas ditaduras burguesas,
democráticas, como se diz
todos,
rigorosamente todos
têm o privilégio
nascer e morrer
de fome ou de tédio

Vagueiam pelas avenidas
do bem-estar social
uns, assim-assim
outros,nem por isso
em viaturas de luxo
em transportes públicos
sempre iguais
uns menos, outros mais

privatizam os aviários
abandonam os pintainhos
soltam as raposas
é dia de festa
apostam na bolsa
no trabalho e nas vidas
que mais lhes convém


E os banqueiros, coitados!
verdadeiros heróis!
governantes, ministros
primeiros e segundos
tanta fé , esforço tamanho
empresários generosos
tão ardilosos!

Em tempo de défice
deficitário
anarquia organizada
prepotência suave
humanidade cruel
é possível combater
e recuperar a dignidade

quinta-feira, 18 de junho de 2009

CIDADE DIVIDIDA


O bairro é robusto
de ferro e cimento
ruas bem iluminadas
pintadas de negro
mar à vista
vivendas de encantar
piscinas, viaturas
topo de gama
aves de rapina
ao cair da noite
abandonam restos
embalagens e comida
que outros procuram
no fundo do desespero

O outro é de caniço
sombrio e de terra batida
desesperançado de tudo
mabandidos à solta
linchamentos anunciados
estômagos e bolsos
recheados de nada
pessoas sem presente
desmantimentados
driblam a fome
mastigam raivas
cerram os dentes
sonham o futuro

quinta-feira, 28 de maio de 2009

À PROCURA DE UM POEMA


No miolo das palavras
antecipo o sabor e o cheiro
de poemas intactos
desertores forçados
abandonados no tempo
de visibilidade nebulosa
invadidos pelo desalento
pelo medo e pelas armadilhas
de adjectivos à solta
barricados nas fronteiras
da linguagem blindada
opaca e obscura

rasgo entranhas
de pensamentos ociosos
cinzentos e incoerentes
ambíguos e frios
ausentes também
polvilhados de mágoas
percorrendo corpos
vasos e tecidos
à procura dum poema
refugiado no sangue
dum sobrevivente
doador de sonhos

quinta-feira, 7 de maio de 2009

NO INFINITO TÃO PRÓXIMO


Pela calada da noite
pé ante pé, sem ruido
afastamo-nos dos olhares
e dos sorrisos manhosos
vagueamos pelas ruelas
sem pressa
sem um protesto
repousamos os corpos
no infinito tão próximo
de nós
cobertos de desejos

terça-feira, 28 de abril de 2009

AS LÁGRIMAS CAÍDAS


As ausências
os silêncios
as lágrimas caídas
a capulana polvilhada
de afectos e saudade
recordam as incertezas
vestidas de esperança
habitadas pelo futuro
construído com suor
destilado em noites
sonhadas de ternura

quinta-feira, 19 de março de 2009

O FUTURO


É preciso dar notícia
informar, mobilizar
que a resistência
à mudança
aprisiona a liberdade
convoca e legitima
a arbitrariedade

É preciso impedir
o regresso ao passado
o ressurgir dos medos
a violência gratuita
o sofrimento, a infâmia
o excesso de autoridade
o reino da impunidade

é preciso dar noticia
mobilizar, resistir
reproduzir a esperança
viabilizar a utopia
recuperar a dignidade
isolar e punir
os carrascos da liberdade

não podemos capitular
temos que acreditar e lutar
jamais mastigaremos silêncios
cumplicidades e medos
nada nos pode acorrentar
saberemos sorrir
lutar e avançar

é urgente extirpar
degenerescências
metástases e bloqueios
falsos profetas
plagiadores de sonhos
usurpadores
sem soçobrar

é preciso, pois
dar noticia, mobilizar
projectar e construir
o futuro sem armadilhas
nem ambiguidade
sem perder de vista
a humanidade

é preciso dar noticia
informar, divulgar
as ausências, os silêncios
o que sofremos
o pão suado
dizer não 
ao regresso ao passado

domingo, 15 de março de 2009

O PROTESTO IMIGRANTE


Em estaleiros de vidas adiadas
homens e mulheres
enclausurados em guetos
de sociedades sem ética
acossados para a marginalidade
reciclados nas fronteiras
da indiferença
a pretexto de serem estrangeiros
estigmatizados pela origem
jazem na miséria e na perseguição
docilizam a revolta
reproduzem a exclusão
NOTA: Click na imagem e aceda ao convite deste protesto

sexta-feira, 13 de março de 2009

AVESTRUZ


não somos muito racistas

não, não senhor!
eles é que não
gostam de nós
diz o patrão agitador

na urbe excludente
há cidadãos de cor
assim designados
por falso pudor

a companheira exilada
cozinha silêncios
com criança nas mãos
agressões e dor

bairros degradados
baixos salários
homicídios, assaltos
notícias de jornais

tráfico de droga
de pessoas também
todos diferentes
todos iguais

quem são os racistas
quem é o agressor
regressem à terra
isto já é demais

na urbe excludente
domina a intolerância
o combate dos lúcidos
esbarra com a arrogância

nos discursos oficiais
banalidades rituais
todos bonzinhos
nos telejornais

IMAGEM DAQUI

quarta-feira, 11 de março de 2009

MUTILADAS DE SILÊNCIOS


mutiladas de silêncios
rasgam muralhas
persistem na busca
solidária
desenham o futuro
edificam espaços
reeditam a esperança
rodeada de afectos
e cumplicidades
partilham e reproduzem

sonhos

com generosidade

quinta-feira, 5 de março de 2009

VIAJEI NAS EMOÇÕES

Viajei no mundo das emoções,
dos afectos e das coisas
desconseguidas
Ingeri, gota a gota,
o suco doce
do teu sorriso
percorri-te com a saudade
povoada de ti e
das tuas ausências
polvilhadas com ternura

domingo, 1 de março de 2009

NO ÚTERO DO PODER



No útero do Poder
ontem e hoje
sobretudo hoje
reapareceu o embuste
mascarado de desapego
filantropia rara
intensa e desértica
sorriso blindado
promessas ilusórias

assobiam, nas margens
da indiferença colectiva
do silêncio cúmplice
subvertem sonhos
reinventam o tempo
constroem muros
acariciam o umbigo
reclamam vitória

é imperioso e inadiável
percorrer a memória
estilhaçar grilhetas
resistir
incendiar a esperança
construir pontes
partilhar o pão
recuperar dignidade

sábado, 28 de fevereiro de 2009

NA SOLIDÃO SUBURBANA





Na solidão suburbana
acossado pela intolerância
relegado para as sarjetas
de sombrias ruelas
do submundo
de penúria e de ausências
exilado no quintal da vida
mastigando silêncios
vagueando nas proximidades
das florestas da hipocrisia

Perdido na noite
rasgou silêncios
muros e medos
forrados de redondas
palavras
escavadas na banalização
da indiferença
atropelando a memória
construída por trapos
de vida e de luta

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

MADRUGADOS NA ESPERANÇA


Hoje, gostaria de te escrever
em papel perfumado
de desejos e sonhos
amadurecidos nas nossas
palavras e gestos
sempre adiados
Hoje, gostaria que te vestisses
de sedução e afectos
madrugados na esperança
tatuada de reencontros
percorridos
pelo teu sorriso

sábado, 14 de fevereiro de 2009

OUTRAS MADRUGADAS





pousado o sextante descansam horizontes
trilham veredas nas iniciáticas noites
por entre o empalidecer das formas
fundem-se em amálgama os sentidos
e nos derradeiros ósculos solares
últimos fulgores dos crepúsculos
aquietam-se cansados os corpos
não não são de água as suas sedes
revolvem nos lençóis as (in)certezas
gravitam em sonho e sonham infinitos
adormecem por fim em marés de luar
esperando o nascer de outras madrugadas

mariam 2009/02/13


Nota: Não resisti transportar, para este espaço, um pouco (?) da sensibilidade de alguém que cultiva a amizade, como poucos